sexta-feira, março 09, 2012

Brownies com praliné de pecã + "Drive", um dos melhores filmes que vi em toda a minha vida

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Pecan praline brownies / Brownies com praliné de pecã

Assisti ao trailer de “Drive” muitos e muitos meses atrás e depois disso não consegui esquecer o filme: havia nele uma aura parecida com alguns dos clássicos dos anos 1970 que amo profundamente – “Operação França”, “Taxi Driver” e “O Poderoso Chefão” me vieram à mente na mesma hora – enquanto que as letras cor-de-rosa neon e a música me passavam uma coisa meio anos 1980. Tinha um bom pressentimento sobre o filme e o prêmio recebido em Cannes me deixou ainda mais curiosa. Por meses esperei, pacientemente, até a noite retrasada, quando fui premiada com 100 minutos de pura obra-prima.

*spoilers*

Segundos após o filme começar meu queixo já estava caído com o quão perfeitamente os primeiros acordes da música se encaixavam à cena e poucos minutos depois eu já estava prendendo a respiração sem sequer ter notado – quantos filmes fazem com que nos sintamos assim logo nos momentos iniciais? Quando Ryan Gosling apareceu em seu carro pela primeira vez, com a canção poderosa ao fundo e a cidade à noite sendo vista de cima eu soube, tive certeza de que o que me aguardava era algo extremamente especial (a trilha sonora é tão fantástica que não consegui parar de ouvi-la até agora). Quando o filme acabou eu estava com os olhos marejados, estupefata e encantada com algo tão lindo e tão perfeito e desejei, do fundo do coração, que mais filmes como “Drive” aparecessem no meu caminho no futuro, pois me fez sentir exatamente como Friedkin, Coppola e Scorsese fizeram na minha adolescência. Havia esperado por tanto tempo ser surpreendida de um jeito bom assim que saí do cinema em estado de graça.

Como uma história tão violenta pode ser contada de um jeito tão poético? Para mim é impossível não reverenciar esse tipo de cinema hoje em dia porque é muito raro. A cena em que o personagem de Gosling carrega Benicio no colo e é visto pelas costas pela mãe do menino é de uma beleza ímpar e fez o meu coração parar. Refn realmente sabe como mover a câmera e nos brinda com centenas de enquadramentos interessantes durante todo o filme (como o carro capotando ao fundo e Christina Hendricks à frente).
O elenco é incrível e Albert Brooks deveria ter sido incluído nas indicações ao Oscar deste ano – acho que ele está fabuloso como Bernie e seu personagem e o motorista têm o melhor diálogo do filme (“minhas mãos estão meio sujas / as minhas também”). Ron Pearlman e Bryan Cranston – como não amar? E, para finalizar, Gosling: quem assistiu a “Tudo pelo Poder” sabe a profundidade que seu olhar possui – ele derrama toneladas de emoção sem sequer abrir a boca. “Drive” está aqui para provar que este jovem ator é realmente talentoso – quantos atores bonitos com todos os meios para se tornarem galãs e ganharem rios de dinheiro com comédias românticas encarariam um papel como este? Ou este? Poucos. Um ator ousado como Gosling era exatamente do que “Drive” precisava. Ele é o filme e me parece ter se colocado inteiramente nas mãos do diretor, com um sentimento de completa confiança – o que me lembra Viggo e a cena da sauna em “Senhores do Crime”: apenas um ator que confia plenamente em seu diretor pode ter uma performance como aquela em uma cena difícil como aquela; creio que este é o tipo de relacionamento que “Drive” iniciou entre Gosling e Refn e depois de ler que os dois estão fazendo outro filme juntos tudo o que posso dizer é “amém”.

***

Antes que eu me esqueça: façam esses brownies – eles são absurdamente deliciosos.

Pecan praline brownies / Brownies com praliné de pecã

Brownies com praliné de pecã
de um livro ótimo que eu deveria e pretendo usar mais vezes

- xícara medidora de 240ml

Praliné:
1 xícara (110g) de pecãs, levemente tostadas e frias
2/3 xícara (133g) de açúcar granulado ou refinado, de preferência orgânico
½ colher (chá) de suco de limão tahiti ou siciliano

Brownie:
6 colheres (sopa) - 84g - de manteiga sem sal
140g de chocolate meio-amargo, picado
56g de chocolate 99% de cacau*, picado – comprado aqui
3 ovos grandes, de preferência orgânicos
1 ½ colheres (chá) de extrato de baunilha
1 xícara (200g) de açúcar granulado, de preferência orgânico
¾ xícara (105g) de farinha de trigo
¼ colher (chá) de sal

Comece preparando o praliné: unte levemente com óleo uma assadeira e reserve.
Coloque o açúcar e o suco de limão em uma panela de fundo grosso e misture para combinar os ingredientes – a mistura parecerá areia úmida. Leve ao fogo médio-alto, girando a panela algumas vezes – não mexa com colher ou espátula. Pincele as laterais da panela com um pincel úmido para remover quaisquer cristais de açúcar. Quando o açúcar derreter e caramelizar retire a panela do fogo e imediatamente junte as pecãs – com cuidado pois o caramelo pode espirrar. Volte a panela ao fogo baixo e misture apenas até a mistura começar a borbulhar – imediatamente derrame o praliné sobre a assadeira untada, espalhando-o o máximo possível. Deixe esfriar completamente.
Agora, o brownie: pré-aqueça o forno a 180°C. Unte uma assadeira de 22x32cm e forre-a com papel alumínio, deixando sobras em dois lados opostos, formando “alças”. Unte o papel também.
Pique o praliné em pedacinhos de pouco mais de 1cm. Reserve.
Coloque a manteiga em uma tigela refratária e leve ao banho-maria (fogo baixo) até derreter. Retire a tigela do fogo e junte o chocolate. Deixe por 5 minutos e então misture gentilmente até o chocolate derreter. Em uma tigela grande, misture os ovos e a baunilha até misturá-los. Junte o açúcar e misture somente até combinar. Acrescente a mistura de chocolate, misturando somente até incorporar. Peneire e farinha e o sal sobre a mistura em duas adições e misture somente até incorporar. Despeje a massa na assadeira preparada e asse por 10-12 minutos ou somente até o topo firmar – os brownies começarão a se desprender das laterais da forma. Retire do forno e salpique todo o praliné sobre o brownie, sem pressionar. Volte ao forno por mais 8-9 minutos ou somente até que o praliné comece a derreter. Retire do forno a deixe esfriar completamente na forma, sobre uma gradinha. Corte em quadradinhos ou barrinhas e sirva.

* acho que fazer a receita somente com chocolate meio-amargo daria certo, não é estritamente necessária a utilização do chocolate 99% (minha opinião)

Rend.: 24 barrinhas – fiz exatamente a receita acima usando uma forma de 20x30cm

quarta-feira, março 07, 2012

Tortinhas de figo e amora + "Sid & Nancy"

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Little fig and blackberry pies / Tortinhas de figo e amora

Um dos meus objetivos para o ano passado era usar mais meus livros de receita e fiquei bem contente com o resultado: realmente os usei bem mais do que costumava fazer e pretendo continuar. Para 2012 tenho um novo objetivo: assistir a mais filmes, especialmente aqueles que, por alguma razão, não vi no cinema.
Comecei com “Sid & Nancy” – por causa do meu frenesi com a indicação de Oldman ao Oscar – e posso dizer que comecei com o pé direito: não só o filme é muito bom – lida de maneira crua com um assunto idem – como também mostra que este homem nasceu para ser ator. Oldman desenvolve o personagem de um jeito que me fez ter sentimentos mistos por ele durante todo o filme e também acrescenta a Sid Vicious, muito sutilmente, uma camada de fragilidade que as pessoas provavelmente não esperam encontrar em um punk. Nem preciso lhes contar sobre a perfeição de sua transformação visual porque isso é algo que ele fez em todos os filmes de que participou até hoje. Gostei demais de “Sid & Nancy”, porém drama é sempre a minha primeira opção de filme – quem prefere comédia talvez deva pensar duas vezes antes de assistir.

***

Moro em apartamento e (infelizmente) não tenho um pomar como o Nigel Slater, mas isso não quer dizer que eu não possa aproveitar suas receitas deliciosas: estas tortinhas maravilhosas são de seu livro "Tender II" e a massa é tão boa e fácil de manusear que figos e amoras não precisam, necessariamente, ser a sua opção de recheio – maçãs com uma pitada de canela é o que tenho em mente para o outono. :)

Tortinhas de figo e amora
um tiquinho adaptadas do absolutamente lindo Tender, Volume 2 (o meu comprei aqui)

- xícara medidora de 240ml

Massa:
1 2/3 xícaras (233g) de farinha de trigo
1/3 xícara (46g) de açúcar de confeiteiro + um pouquinho extra, para polvilhar
1 pitada de sal
½ xícara + 2 colheres (sopa) - 140g - de manteiga sem sal, gelada e em cubinhos
1 gema grande
½ colher (chá) de extrato de baunilha

Recheio:
200g de amoras – usei congeladas, parcialmente descongeladas
4 figos grandes
2 colheres (sopa) de mel
suco de 1 limão
2/3 xícara (66g) de farinha de amêndoa

Unte levemente com manteiga quatro forminhas fundas de torta ou formas de mini bolo de 10x5cm cada. Reserve.
Coloque a farinha, o açúcar de confeiteiro e o sal no processador de alimentos e pulse para combinar e remover quaisquer grumos. Junte a manteiga e pulse até obter uma farofa grossa. Junte a gema e a baunilha e pulse até que a massa comece a se formar. Transfira a mistura para um pedaço grande de filme plástico e junte-a, formando um disco e, em seguida, forme um cilindro com a massa. Embrulhe e leve à geladeira por pelo menos 1 hora.
Pré-aqueça o forno a 200°C. Lave as frutas, corte os figos em pedaços graúdos e transfira para uma tigela. Junte as amoras, o mel, o suco de limão e a farinha de amêndoas e misture bem.
Divida a massa em quatro partes iguais. Trabalhando em uma superfície levemente enfarinhada, achate cada parte de massa e forre com ela uma das forminhas preparadas, deixando sobrar massa além da beirada da forma. Repita com a massa restante. Divida o recheio entre as forminhas forradas com massa e então deite as sobras de massa sobre o recheio, sem cobri-lo completamente – o centro da torta não deve ser coberto com a massa, deixando uma lacuna por onde o recheio fique visível.
Coloque as forminhas em uma assadeira de beiradas baixas e asse por 30-35 minutos ou até que a massa doure bem e o recheio esteja borbulhando. Polvilhe com açúcar de confeiteiro e sirva mornas ou em temperatura ambiente.

Rend.: 4 – fiz as tortinhas usando estas mini formas de bolo (com fundo removível)

segunda-feira, março 05, 2012

Le gibassier

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Le gibassier

Estava apenas procurando uma receita para usar um pouco da casca de laranja em calda que sobrara na geladeira depois do bolo de quase-sogra, mas o que encontrei foi o pão mais bonito que vi na vida, do qual nunca ouvira falar antes. Gosto demais quando certas coisas me levam a grandes descobertas, e voltei a sentir isso há cerca de uma semana, quando depois de assistir ao fantástico “Dublê de Anjo” fiz minha visita de costume ao IMDb: xeretando o perfil de Lee Pace encontrei este filme, do qual nunca ouvira falar e que parece ser exatamente o tipo de drama que adoro.

Le gibassier
da gloriosa e deliciosa Australian Gourmet Traveller

- xícara medidora de 240ml

1/3 xícara (80ml) de leite integral morno
4 ½ colheres (chá) - 14g - de fermento biológico seco
6 colheres (sopa) - 72g - de açúcar granulado, de preferência orgânico – uso dividido
2 ½ xícaras (350g) de farinha de trigo
2 ovos grandes, de preferência orgânicos
2 colheres (sopa) de azeite de oliva
1 ½ colheres (chá) de água de flor de laranjeira
½ colher (chá) de extrato de baunilha
¼ xícara + 1 colher (sopa) - 70g - de manteiga sem sal, amolecida
100g de casca de laranja em calda/cristalizada (se for em calda, drenada), picadinha – usei caseira, receita aqui
açúcar de confeiteiro, para polvilhar

Coloque o leite, o fermento e 3 ½ colheres (sopa) do açúcar em uma tigelinha. Misture bem e deixe em temperatura ambiente por 10 minutos ou até que espume.
Na tigela grande da batedeira, usando o batedor em formato de gancho, misture a farinha e o açúcar restante. Junte os ovos, o azeite, a água de flor de laranjeira, a baunilha e a mistura de fermento e sove/bata até obter uma massa lisa e elástica (50-10 minutos). Vá acrescentando a manteiga, aos poucos, misturando até incorporá-la. Junte a casca de laranja cristalizada, sove para incorporar, e então transfira a massa para uma tigela grande levemente untada com óleo. Cubra e deixe crescer em um lugar livre de correntes de ar até dobrar de volume (1½-2 horas).
Forre uma assadeira grande com papel alumínio. Dê um soquinho na massa para retirar o excesso de ar e divida em duas partes iguais. Dê a cada metade de massa um formato rústico de folha, faça cortes na massa imitando os veios de uma folha e abra-os levemente com os dedos. Coloque os pães na forma preparada, cubra levemente com um pano de prato limpo e seco e deixe crescer novamente por mais 1 hora – depois desse período os cortes que eu fizera nos pães tinham praticamente desaparecido; por isso, refiz os cortes antes de assar os pães.
Pré-aqueça o forno a 200°C. Asse os pães até que dourem bem e estejam assados por dentro (10-12 minutos). Polvilhe com açúcar de confeiteiro e sirva morno (também gostei dos pães em temperatura ambiente).

Rend.: 8 porções

sexta-feira, março 02, 2012

In the kitchen with: Design*Sponge

Hoje estou lá no fantástico Design*Sponge mostrando aos gringos o nosso delicioso bolo de cenoura - a adorável e talentosa Kristina Gill publicou a receita de minha mãe, um dos meus bolos preferidos e que eu adorava levar na lancheira - espero que vocês gostem!

Um ótimo final de semana a todos!

quinta-feira, março 01, 2012

Bolo de banana caramelada

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Butterscotch banana cake / Bolo de banana caramelada

E quando eu achava que o bolo de banana da Flo Braker ficaria eternamente como título de “melhor bolo de banana jamais feito em minha cozinha” aparece o Sr. Dan Lepard com a idéia de caramelizar as bananas antes de adicioná-las à massa do bolo – genial, não? O bolo ficou incrivelmente macio, com uma cor dourada linda e profunda e um sabor delicioso e bem marcante de banana.

Inspirada por uma das minhas performances favoritas de Robert DeNiro tenho pensado em preparar o bolo do Dan Lepard coberto com a farofinha da Flo Braker – e se houver alguém aí me lendo disposto a provar tal combinação eu adoraria saber como ficou. :D

Butterscotch banana cake / Bolo de banana caramelada

Bolo de banana caramelada
um nadinha adaptado do delicioso Short and Sweet (comprei o meu aqui)

- xícara medidora de 240ml

Bananas carameladas:
¾ xícara (150g) de açúcar cristal, de preferência orgânico
¼ xícara (60ml) de água
250g de bananas, em pedacinhos de 2cm
1 colher (sopa) de manteiga sem sal
1 colher (chá) de extrato de baunilha

Bolo:
½ xícara (100g) de açúcar granulado, de preferência orgânico
¾ xícara (180ml) de óleo de canola (ou outro óleo vegetal de sabor neutro)
2 ovos grandes, de preferência orgânicos
¼ xícara (65g) de iogurte natural integral
1 colher (chá) de extrato de baunilha
1 xícara + 1 colher (sopa) - 150g - de farinha de trigo
½ xícara + ½ colher (sopa) - 75g - de farinha integral
1 colher (chá) de canela em pó
2 colheres (chá) de fermento em pó
½ colher (chá) de bicarbonato de sódio
1 pitada de sal

Prepare as bananas carameladas: coloque o açúcar e a água em uma frigideira grande (não use antiaderente, porque o fundo preto não vai lhe permitir controlar a cor do caramelo) e leve ao fogo médio, mexendo somente até dissolver o açúcar – depois disso, não mexa mais, apenas gire a panela levemente algumas vezes. Deixe ferver, aumente o fogo e cozinhe até obter um caramelo. Junte as bananas, a manteiga e a baunilha – cuidado pois o caramelo pode espirrar – e cozinhe em fogo médio, mexendo ocasionalmente, até a banana desmanchar levemente no caramelo e a mistura engrossar. Despeje em um prato e deixe esfriar completamente.

Pré-aqueça o forno a 180°C. Unte com manteiga uma forma quadrada de 20cm e forre o fundo da forma com papel manteiga. Unte o papel também*.
Bata o açúcar com o óleo e o os ovos até que a mistura engrosse e fique levemente aerada. Junte as bananas, o iogurte e a baunilha. Desligue a batedeira e peneire as farinhas, a canela, o fermento, o bicarbonato e o sal sobre a mistura, incorporando delicadamente com uma espátula.
Transfira a massa para a forma preparada e asse por cerca de 50 minutos ou até que o bolo cresça e doure (faça o teste do palito).

* usei uma forma com fundo removível e não forrei o fundo com papel manteiga – apenas untei bem a forma, especialmente nos cantinhos

Rend.: 16 porções